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sábado, 9 de março de 2013

PEQUENOS RELATOS DE JEJE!



A NAÇÃO “VOODOO”
O termo voodoo em inglês vem da palavra vodun, que significa“divindade” ou “deus” no grupo dialetal ewe-gen-aja-fon do Golfo daGuiné — a oeste da localização contemporânea dos yorùbá. Há muitos séculos, saíram várias dinastias da cidade de Tado, atualmente no Togo.
Tais dinastias fundaram os reinos de Allada, Dahomé e Hogbonou ou Porto-Novo. Elas e seus súditos acabaram por falar diversos dialetos. Como súditos de diversos reinos, esses grupos não pertenciama nenhum grupo politicamente unido. De fato, achavam-se muitas vezes em guerra uns contra os outros.
Durante o século XVII e começo do XVIII, o reino de Allada dominava o comércio com os europeus nessa região. A oeste achava-se o famosíssimo Castelo de São Jorge da Mina, o qual desempenhou um papel importante no comércio afro-europeu. Nesse período, traficantes de escravos e viajantes europeus identificaram vários povos adoradores dos voduns e chamaram-nos coletivamente de
“Ardra/Arder/Ardres” (do nome do reino de “Allada”) e “Minas” (do nome do Castelo de São Jorge da Mina).
Em seguida, encontram populações no Haiti chamadas de “Rada” e em Cuba de “Arara”. No Brasil e na Louisiana francesa foram denominadas “Minas”. No entanto, em certo momento, em meados do século XVIII, no Brasil, esses mesmos povos adoradores dos voduns passaram a ser conhecidos como “Jejes”. Sendo este nome um mistério. Embora os falantes de ewe, gen, aja e fon tivessem sido embarcados em maior número antes de 1800, não foi encontrada nenhuma menção a esse nome no Golfo da Guiné até 1864, depois do fim efetivo do tráfico de escravos.
O termo “jeje” aparece nos documentos brasileiros a partir de 1739, embora esteja ausente da cartilha escrita no Brasil por Peixoto (1943-44). A adoração dos deuses vodun deixa pouca dúvida de que a sua religião veio da zona entre o Castelo de São Jorge da Mina
Rodrigues estabeleceu a tradição etimológica brasileira de identificar a palavra “ewe” — o nome do dialeto falado agora no sudoeste de Togo e no sudeste de Gana — como a origem do termo“jeje”, que hoje em dia designa o dialeto do povo “mina” do Togo e do sudoeste do Benin.
Até hoje, a maioria dos terreiros da nação jeje auto declara-se “marrim”(mahi) (maxi) ou “savalu”. Essa proeminência histórica dos Maxi na Bahia ajuda a entender a raridade da cobra na religiosidade baiana no final do século XIX.
Os Maxi no Golfo da Guiné praticaram pouco a adoração do deus-serpente. Mas como se explica a ascensão do deus-cobra na Bahia no século XX? É considerado que a comunicação no começo deste século entre a Bahia e o Golfo da Guiné implica o ressuscitamento da nação jeje e a adoção por parte da mesma do deus-serpente como seu emblema. Os famosos marrins baianos que regressaram à África e mantiveram contato com a Bahia normalmente, estabeleceram os seus quartéis-generais não na terra interior dos Maxi, mas no litoral, onde a adoração do deus-serpente era central na religião dos nativos.
A TRADIÇÃO JEJE:
O VODUN JEJE SOGBÔ E A PROVA DE ZO
A tradição dos povos fons que aqui no Brasil foram chamados de Adjeje ou Jeje pelos yorubás, requer um longo confinamento quando na época de iniciação. Essa tradição Jeje exigia de 06 (seis) meses ou até 01 (um) ano de reclusão, de modo que o novo vodun-se aprendesse as tradições dos voduns: como cultuá-los, manter os espaços sagrados, cuidar das árvores, saber dançar, cantar, preparar as comidas e um artesanato básico necessário a implementos materiais dos diferentes assentos, ferramentas e símbolos necessários ao culto.
Para os povos Jeje, os voduns são serpentes que tem origem no fogo, na água, na terra, no ar e ainda tem origem na vida e na morte. Portanto, a divindade patrona desse culto é Dan ou a "Serpente Sagrada".
Para o povo Jeje os Voduns são serpentes sagradas e sendo as matas, os rios, as florestas o habitat natural das cobras e dos próprios voduns. O ritual Jeje depende de muito verde, grandes árvores pois muitos voduns tem seus assentos nos pés destas árvores.
Outra particularidade deste culto é de que quando as vodun-ses estão em transe ou incorporadas com seu vodun: os olhos permanecem abertos, ou seja, os voduns Jeje abrem os olhos, diferente dos orixás dos yorubás, que mantém os olhos sempre fechados.
É comum no culto Jeje provar o poder dos Voduns quando estes estão incorporados em seus iniciados. Uma destas provas é a prova chamada Prova do Zô ou Prova do Fogo do vodun Sogbô, que governa as larvas vulcânicas e é irmão de Badé e Acorombé, que comandam os raios e trovões.
A seguir, cita-se uma Prova do Zô feita com uma vodun-se feita para Sogbô, um vodun que assemelha-se ao Xangô do Yorubás:
Num determinado momento entra no salão uma panela de barro, fumegante, exalando cheiro forte de dendê borbulhante, contendo dentro alguns pedaços de ave sacrificada para o vodun. Sogbô adentra o salão com fúria de um raio, os olhos bem abertos (que como expliquei é costume dos voduns) e tomando a iniciativa vai até a panela, onde mergulha as mãos por algum tempo. Em seguida, exibe para todos os pedaços da ave. É um momento de profunda emoção gerando grande comoção por parte dos outros iniciados que respondem aquele ato entrando em estado de transe com seus voduns.
CONCLUSÃO
O caso das nações afro-latinas compromete a lógica primordialista da história convencional dos grupos étnicos africanos, mas fala da literatura recente sobre a nação e o transnacionalismo. Mas demonstra que comunidades diaspóricas, poderosamente imaginadas, desenvolviam-se ao mesmo tempo que a nação territorial. E o fato que essas “nações” diaspóricas criaram um vocabulário paralelo ao da nação territorial.
Uma das chaves do sucesso extraordinário dessas nações diaspóricas é que muitas pessoas negras e mulatas não achavam convincente, de jeito nenhum, a“imaginação” da sua cidadania na nação territorial.
Consideravam-se, freqüentemente, excluídos dos direitos e privilégios dessa cidadania.
Achavam mais impressionantes e convincentes as formas de inclusão, imaginário literário e pompa associados com as nações diaspóricas. Ademais, essas pessoas negras e mulatas não estavam sozinhas nessa preferência; muitos brancos também aderiram e continuam aderindo a tais circunstâncias.
No passado, muitos antropólogos, historiadores e outros estudiosos da cultura negra tenderam a supor que os cativos africanos nas Américas se originaram de grupos étnicos africanos cujas culturas preexistentes “sobreviveram” na diáspora até elas desaparecerem aos poucos pelo processo de assimilação.
Ao contrário, os grupos africanos e afro-americanos mais importantes são transatlânticos na sua gênese. Embora supostamente primordiais certos grupos étnicos na África não teriam existido senão pelos esforços dos regressados da diáspora. O grupo étnico jeje é um desses casos que estende a duração do fenômeno cultural e politicamente transformador, que é atualmente chamado de“transnacionalismo”.
Fonte-J. Lorand Matory
“Vale observar que o mais marcante das singularidades africanas é o fato de seus povos autóctones terem sido os progenitores de todas as populações humanas do planeta, o que faz do continente africano o berço único da espécie humana. Os dados científicos que corroboram tanto as análises do DNA mitocondrial quanto os achados paleoantropológicos apontam constantemente nesse sentido”.

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